O texto não é meu, mas achei divertido!
A dor-de-cotovelo está morrendo. Ou ganhando uma brevidade, uma efemeridade, digna dos tempos da tal pós-modernidade (se alguém ainda sacar o que é isto, por favor, cartas para a redação –ops, nem redações existem mais…).
Ah, mas não sou oráculo nem Paulo Coelho (muito menos o Arnaldo Jabor), então não sei se isso é bom ou ruim. Talvez a gente descubra as conseqüências tarde demais. Talvez as conseqüências transformem o mundo no Paraíso (com maçãs, mas sem cobras, por favor). Fato irrefutável: finalmente o planeta será destruído, ou melhor, comandado, por uma geração criada na dor-de-cotovelo virtual. A turma dos amores cibernéticos está chegando.
Para quem não se lembra, há muuuuiiiitoooo tempo (uns três anos, mais ou menos), as pessoas terminavam seus namoros, casinhos, romances, casamentos e relacionamentos doentios e sofriam por uma infinidade de dias (certo, em alguns casos, o negócio todo durava minutos, mas aí não entram na minha estatística).
Mas a graça da história era o sofrimento pós-romance. E mais: a dor-de-cotovelo era um grande barato. Sério. Você ficava lá, tristonho e remoendo uma raiva represada. Não importava se você é quem tinha dado um suave pé na traseira da pequena. Ou se tinha levado um coice. A sensação era a mesma: rancor pelo tempo perdido. Você queria ficar em paz, esquecer a sirigaita, desprezar o passado e JAMAIS (vocês que estão dormindo, prestem atenção porque este é um momento capital da crônica) OUVIR O NOME DAQUELA VAGABUNDA (geralmente os termos fortes –e injustos- afloram neste trecho).
Assim, partia para resgatar planos esquecidos, voltava a estudar, pensava em mudar o mundo, andava sem rumo, tomava cerveja gelada sozinho num bar antes despercebido, descobria que seus pais estavam vivos e moravam na mesma casa que você etc.
Então, um belo dia, ao caminhar pelo bosque, você encontra a ex com outro (geralmente o seu oposto). E descobre que ela está feliz. E os dois te olham com cara de “putz, o sujeito está um trapo”… E o resto da melodia vem naturalmente.
Sim, você também já fez uma farra com as companheiras da ex, bebeu vodca batida com amoníaco, chamou umas amigas para curtirem um final de semana na praia… E daí? Nada disso impedia a dor de cotovelo e a surpresa ao descobrir o paradeiro do ex-amor.
E agora? Em tempos de Orkut, a dor-de-cotovelo atinge o nível 0 da Escala de Sofrimento Amoroso, desenvolvido na Califórnia. Não dá tempo, caramba! Eis o ciclo completo de um “Amores Perdidus” hoje:
- 19h30 – fim do relacionamento;- 19h31 – casais se despedem;- 19h32 – você muda seu perfil no Orkut;- 19h33 – alguém envia uma mensagem dando parabéns pela decisão;- 19h34 – alguém manda uma mensagem dizendo que sempre foi apaixonada por você;- 19h35 – alguém te convida para um encontro;- 19h36 – você topa;- 19h37 – a ex checa o seu perfil, descobre que você já está sendo assediado, chora por 12 segundos e parte para o ataque;- 19h38 – a ex muda o próprio perfil no Orkut;- 19h39 – seu melhor amigo chama a ex para sair.- 19h40 – antes de sair para ficar com a menina que te convidou para assistir a um show, você passa pelo perfil da sua ex e descobre que ela nem esperou o corpo esfriar. Então, dá um soco na mesa, grita “sua vagabunda” e desliga o computador.
Já vi casos mais rápidos que este. Inclusive tenho um amigo que se apresenta como “detetive do Orkut”. Se quiser, ele encontra quem você pedir e te dá as coordenadas. É o fim definitivo da dor-de-cotovelo infinita, daquele conforto por desconhecer o paradeiro do ex-amor.
Para fechar a tese, graças ao Orkut, os emos fazem tanto sucesso (e têm essas caras que evocam o passado e os Smiths). Eles acreditam na dor-de-cotovelo, no sofrimento, no esquecimento lento e gradual de uma paixão.
Por quê? Ora, minhas amadas leitoras e queridos amigos… Muitas vezes, o “não saber” e a dúvida alimentam a alma de um desenganado e podem transformar a miséria em poesia. Mas, tudo isso exige um certo tempo, pô.
(por: Careca- site:http://machoperonomucho.uol.com.br )
Nenhum comentário:
Postar um comentário